Camisa de força química

Temos que tomar cuidado com diagnósticos apressadinhos.
"Ah, Fulano tem TOC."
Calma, Fulano pode ser apenas uma pessoa normal que gosta de limpeza.
"Ah, Beltrano é hiperativo."
Ei, calma!
Beltrano pode apenas ser um sujeito mal educado.
Apresentei aqui apenas dois exemplos para mostrar como diagnósticos apressados, imprecisos, incorretos, influenciados até pela moda, podem piorar ainda mais a situação de uma pessoa, ou seja, a pessoa depois de receber um diagnóstico como se fosse uma pedrada, começará a se entupir de medicações e achar que não conseguirá mais viver sem psicoterapia.
O remédio é necessário sim, evidentemente, mas tão somente para as patologias verdadeiras!
Doença é doença.
Normalidade é normalidade.
Normalidade não é doença.
Normalidade é contingência.
Faz parte da vida.
Não se deve tratar nem medicar contingências!
Diante das contingências, apenas orientamos, ajudamos a pessoa a pensar, a refletir, a entender o que se passa.
Sentir medo é natural, ansiedade é normal, tristeza é normal, angústia é normal, estresse é normal, sofrimento é normal, é natural às vezes sentir esgotamento, desânimo.
Faz parte da vida, do dia a dia.
Não se trata nem se medica o que é normal.
As contingências (normalidade, naturalidade) existem para serem enfrentadas, a fim de fortalecer a pessoa, e fazer dela alguém capaz de viver.
Nós tratamos e medicamos quando há verdadeiramente uma doença instalada no indivíduo.
Por exemplo: psicose maníaco-depressiva (transtorno bipolar), depressão endógena, esquizofrenia etc.
Portanto, não podemos favorecer o crescimento de uma sociedade formada por pessoas assustadoramente fracas, viciadas em resmunguice, preguiçosas,que querem tratamento e medicamentos para contingências ou normalidades, fazendo da psicoterapia uma muleta existencial, e das medicações uma camisa de força química. Não!
(Rodrigo Fernando Ribeiro é psicólogo)