O MI-MI-MI E AS MÚLTIPLAS FACES DO BOLSONARISMO
Num primeiro exemplo, leio o Blog do Zé Aparecido, contido num perfil do “Facebook” denominado “SOMOS TODOS Bolsonaro’, onde o jornalista belo-horizontino José Aparecido Ribeiro se manifesta choramingante e manipulador. Afinal de contas, escrever que “Bolsonaro não é bom de briga”, “que não foi à casa do inimigo para confronto, estava desarmado” ou que as perguntas feitas a ele eram “jargões usados pela esquerda”, são invocações contraditórias. Sabe-se que o Presidente gosta de polêmicas e defende “um povo armado”. Além do mais, bolsonaristas nada entendem de ideologias, pois rotular a Globo, o ex-governador João Dória, até o nazismo como socialistas ou esquerdistas é um tremendo vexame intelectual. A entrevista, na visão caolha desse autor, é um “tribunal inquisidor?” comandado pelos seus colegas Willian Bonner e Renata Vasconcelos, por ele chamados de “inquisidores disfarçados de jornalistas”. Esperaria ele que a bancada do Jornal Nacional, entrevistando um “inimigo” estaria a jogar confetes nele? Em determinado momento, na verdade o único em que Bolsonaro revelaria sua real personalidade autoritária, emparedado por Bonner sobre sua aliança com o Centrão, ele assim se expressou: “você quer que eu vire um ditador?” Ele mesmo exteriorizou aquilo que sempre esteve guardado dentro do seu cérebro: sem os 300 deputados do Centrão ele admitiu que tornar-se-ia um ditador, certamente que não se renderia como Dilma, pois, sempre confiou no “seu” exército.
Ocorre que tanto o Presidente Bolsonaro, como seus seguidores, já devem ter escutado por diversas vezes pronunciamentos de altos oficiais da ativa e da reserva que a Força Exército – e as demais – são instituições de Estado, obedientes à Constituição Federal, e não forças a serviço de um governo. Ademais, o oficialato superior não embarcaria numa aventura ditatorial de um antigo e mal-comportado Tenente, que, na Política, usufruiu durante 28 anos das benesses e mordomias da Câmara dos Deputados e, agora, deu mostras de má gestão governamental. Em fim de mandato, se jogou nos braços do Centrão e nas jogadas de corrupção dos parlamentares – principalmente nas verbas mal aplicadas e superfaturadas dos tratores, dos caminhões de lixo e das propinas dos pastores no Ministério da Educação, tudo contido no contorcionismo orçamentário das Emendas de Relator-Geral, criadas em 2019 por um governo que afirmava ser a Nova Política. Se o jornalista em questão alega que “a Globo manda às favas a ética jornalística”, pensamento consensual do bolsonarismo, eu refresco a memória de todos diante desse mi-mi-mi, porque a Esquerda brasileira foi quem mais sofreu nas mãos, nas letras, nas vozes e nas imagens desse Grupo fundado pelo jornalista Roberto Marinho, sem que essa mesma Esquerda falasse em boicote ou deixasse de respeitar e admirar esse conglomerado pelo seu prestígio dentro e fora das nossas fronteiras. A Esquerda brasileira sempre soube ser altruísta e propensa ao diálogo. Esquecem os chorões bolsonaristas do apoio Globo à Ditadura 1964/85, onde aliados do Capitão também estavam, defendendo a tortura e o extermínio de opositores? À tentativa de impedir a vitória de Leonel Brizola em 1982? À manipulação a favor do candidato Collor de Mello em prejuízo de Lula, em 1989? À insuflação e apoio aos protestos de rua desde 2013 até à consumação do Golpe Parlamentar-Judicial contra a legítima Presidente Dilma Rousseff, em 2016? Observem que os bolsonaristas escondem facetas passadas de golpismo, de truculência, de simpatia ao jornalismo tendencioso. Seu choro atual é enganoso, pois sempre defenderam uma ideologia preconceituosa, discriminatória, armamentista, embusteira e deletéria ao planeta.
Noutra ponta, há outra postagem em compartilhamento nas redes sociais, que fala em 100 mil postagens nos primeiros 5 minutos, ambicionando chegar a 50 milhões – que para mim nenhum valor possui – assinada por uma suposta Simone Ramos, dirigida à Rede Globo. O texto é longo, dizendo-se: “ser pensante que sou não poderia deixar de notar o teor grosseiramente tendencioso com que noticiam todo e qualquer acontecimento envolvendo o sobrenome Bolsonaro”. Vejam que ser pensante! Vai dissertando uma sequência de baboseiras e infantilidades na 1ª pessoa verbal. Outros milhões de “pensantes” a reproduziriam. Fala em vergonha da Globo; da “submissão” de seus funcionários aos patrões; nos “idiotas” do BBB transformados em heróis; no “presidiário” Luiz Inácio Lula da Silva – que deve estar preso na imaginação e no ódio dos bolsonaristas, pois, sobre Lula desse modo também se referiu o tal de José Aparecido Ribeiro, de BH – e a cantilena segue pela Lei Rouanet e chega ao “rombo bilionário em impostos devidos pela Globo à Receita Federal”. Tudo no mesmo estilo leviano e sem provas tal qual o Presidente Bolsonaro e alguns de seus altos lacaios se referem à FRAUDE nas eleições, curiosamente, eleições que tantas vezes beneficiaram Jair Bolsonaro e filhos.
Pelo meu texto, o leitor poderá extrair as dezenas de caras diferentes que o Bolsonarismo apresenta – ou facetas de uma jóia vagabunda e mal lapidada. Doentes ou zumbis saídos das profundezas do inferno, essas criaturas carecem de contenção com camisas-de-força antes usadas nos manicômios medievais. Ou serem exorcizados de volta para as fornalhas do inferno.