Originalmente olhávamos sempre para os outros.
Ninguém olhava para si mesmo, até, de repente, começar a ver o próprio reflexo, a própria imagem na superfície de um rio.
Quem é este ser desconhecido?
Surpresa!
Aquele que parecia ser o outro, na verdade sou eu refletido na imagem!
Reflexo.
Reflexão.
Passei a pensar (refletir) em quem sou, como sou, e de que modo estou agindo no mundo.
Passei aos poucos a me reconhecer, a me perceber e, em relação aos outros, a me assemelhar e também a me diferenciar. Somos sim parecidos. Iguais não.
Depois de muitos e muitos anos, veio o espelho.
A auto-observação se intensificou.
Lado bom disso: Autoconhecimento. Passamos a nos compreender melhor, pois olhar para si, para as próprias expressões, para os próprios gestos, nos deu maior consciência do que estamos mostrando para os outros - o tempo todo. Boa parte do inconsciente se tornou visível na linguagem não verbal, muito expressiva e reveladora!
Aspecto ruim: O egoísmo cresceu em muita gente.
Com a chegada da tecnologia muita coisa piorou nesse sentido. Excelente tecnologia, mas infelizmente mal usada por muitos.
O indivíduo faz de tudo e gasta o que não tem para... se amar compulsoriamente, e não espontaneamente.
Se ama tanto que esquece do outro.
A moda passou a ser o auto cuidado exagerado, até desenfreado. Alucinado.
Rostos plastificados de tanta plástica. Corpos deformados de tanta artificialidade química ingerida e injetada.
Olhar para o outro, para as necessidades do outro, deixou de fazer tanto sentido.
O altruísmo se vê ameaçado!
O egoísmo obcecado, sem perceber, sufoca a si mesmo. A pessoa fica ensimesmada, com o coração desnecessariamente atribulado, a mente inevitavelmente perturbada - cedo ou tarde.
Poses e mais poses.
Selfies ininterruptas.
O indivíduo nunca olhou tanto para si, e nunca se sentiu tão deprimido.
Não era pra ficar mais feliz?
Pois é... Não ficou.
Afinal, cultivou tanto beleza de verniz!
Vidinha superficial.
A alma segue angustiada.
Quanta decepção.
A orientação sagrada não nos foi dada em vão. Ela nos garante: existe felicidade maior em doar do que em receber. Doar!
No entanto, a doação perde espaço para a autovitimização.
Estamos diante de uma geração assustadoramente fraca, patética e tola.
Até quando?